sexta-feira, 25 de abril de 2014

O tabu da inclusão de deficientes físicos na educação musical

Professor Welton Carlos Ferreira Rudi

Educar musicalmente o deficiente físico é um desafio. Primeiro porque infelizmente essa tarefa não soa agradável para a maioria dos educadores justamente por causa do preconceito que se instala facilmente em qualquer lugar, por causa dos medos em se relacionar com o deficiente.
Nenhum ser humano deve ser excluído da possibilidade de relacionar e aprender música. A música é para todos porém o próprio deficiente pode acabar se excluindo e se desinteressando devido a falta de estimulo, programas e projetos relacionados a esse tema. Esse problema se acentua quando se nota que socialmente em sua maioria não existem músicos deficientes em orquestras, bandas ou qualquer outro tipo de grupo musical. Existem poucas escolas de música especificas e determinadas a trabalhar com deficientes porque ainda prevalece o ensino elitista e tradicional de música, o que gera um “cabo de guerra” onde a corda sobra para as escolas públicas que não possuem todo o preparo necessário. Conclui-se que o deficiente não é de forma alguma incluído. É necessário um despertar da sociedade para o problema, afinal incluir não depende apenas dos educadores mas do coletivo e de um pensar, atuar e agir constante.
O trabalho da professora Isabel Cristina Dias Bertevelli se destaca pela abordagem com deficientes visuais. Verifica-se abaixo o relato do começo do seu trabalho:
O início do trabalho foi explorar o movimento, pois os aspectos musicais (vocal e instrumental) já eram trabalhados independentemente. Percebi também a importância da criação de como podemos ultrapassar os aspectos musicais e transpor para o coletivo, o social. A dança é coletiva; aprende-se olhando, sentindo, ouvindo e principalmente, vendo. Essa foi minha dificuldade: a necessidade de dizer claramente o que aconteceria, os passos até a formação de toda coreografia. Paralelamente, como promover uma livre expressão de movimentos sem a visão ou como promover um significado para esse movimento experimentado...
...O trabalho musical com cegos utilizando se o movimento pode ser um pouco mais lento do que seria normalmente com alunos que enxergam. Este trabalho precisa de uma série de condutas que são muito simples, mas que contribuem na organização das aulas e em seu efetivo desenvolvimento. Algumas estratégias básicas de aprendizagem que são utilizadas, inclusive, em outras situações de
ensino - aprendizagem, mas, neste caso, sua utilização é fundamental. ( Isabel Cristina D Bertevelli -
Estratégias metodológicas utilizadas na Educação Musical de cegos a partir da abordagem Orff – Scheulwerk).
Koellreutter (1998) afirma que a educação musical é um meio de desenvolver faculdades para o exercício de qualquer profissão. Realmente o estudo musical não envolve somente habilidades fisico motoras mas também as faculdades sensoriais e psicológicas. Isso não quer na verdade provar que um músico seja uma pessoa melhor do que outra mas dizer que a música oferece inúmeras ferramentas para que um indivíduo seja ele quem for possa se desenvolver completamente.
“Hans-Joachim Koellreutter (1998), educador musical e conceituado compositor alemão naturalizado brasileiro, afirma que a música é um meio de desenvolver faculdades para o exercício de qualquer atividade. De acordo com suas palavras, a música trabalha a concentração, a autodisciplina, a capacidade analítica, o desembaraço, a autoconfiança, a criatividade, o senso crítico, a memória, a sensibilidade e os valores qualitativos.”
Até aqui é possível entender plenamente que música é acessível a todos de uma forma ou de outra. Nem todo indivíduo nasceu para ser músico profissional, mas toda pessoa pode ser musicalizada e para isso basta ela ter contato com a música, mais do que ouvi-la. Se musicalizar é sentir, experimentar e fazer música com qualidade ou não.
De acordo com Reimer (1970): a educação musical [...] tem lutado com o problema
de justificar sua existência para a sociedade, da qual ela depende.
Apesar do esforço de inúmeros educadores o sistema pedagógico ainda é escravodo sistema econômico. Não é nada dificil observar muitos educadores construindo seus próprios materiais e instrumentos de trabalho, ou arcar com outros custos referentes a seu emprego porque assumiram o compromisso da educação de qualidade. Mas quando os chefes de nação, de estado e secretarias de educação realmente iram arcar com e assumir juntos com os educadores essas funções? O investimento em educação reflete também o investimento em saúde. Em casos mais sérios de deficiência o proessor preciso trabalhar em conjunto com o especialista em medicina, seja um médico, enfermeiro, psicólogo ou fisioterapeuta. Essas pontes extremamente necessárias precisam ser construídas, mas ainda não existem. Ainda vivemos com o errado pensamente de que cada um deve fazer sua parte quando na plena realidade funcionamos como uma orquestra onde só tocamos quando ouvimos o outro.

Referências:

BERTEVELLI, Isabel Cristina D, Estratégias metodológicas utilizadas na Educação Musical de cegos a partir da abordagem Orff – Scheulwerk

LOURO, Viviane, Educação musical e deficiência:quebrando os preconceitos

VASH, Carolyn. Enfrentando a deficiência:a manifestação, a psicologia, a reabilitação. São Paulo: Pioneira, 1998.

ATACK. Sally M. Atividades Artísticas para Deficientes. Trad. Thaís Helena F. Santops. Campinas: Papirus, 1995. (coleção Educação Especial).