O
tabu da inclusão de deficientes físicos na educação musical
Professor
Welton Carlos Ferreira Rudi
Educar
musicalmente o deficiente físico é um desafio. Primeiro porque
infelizmente essa tarefa não soa agradável para a maioria dos
educadores justamente por causa do preconceito que se instala
facilmente em qualquer lugar, por causa dos medos em se relacionar
com o deficiente.
Nenhum
ser humano deve ser excluído da possibilidade de relacionar e
aprender música. A música é para todos porém o próprio
deficiente pode acabar se excluindo e se desinteressando devido a
falta de estimulo, programas e projetos relacionados a esse tema.
Esse problema se acentua quando se nota que socialmente em sua
maioria não existem músicos deficientes em orquestras, bandas ou
qualquer outro tipo de grupo musical. Existem poucas escolas de
música especificas e determinadas a trabalhar com deficientes porque
ainda prevalece o ensino elitista e tradicional de música, o que
gera um “cabo de guerra” onde a corda sobra para as escolas
públicas que não possuem todo o preparo necessário. Conclui-se que
o deficiente não é de forma alguma incluído. É necessário um
despertar da sociedade para o problema, afinal incluir não depende
apenas dos educadores mas do coletivo e de um pensar, atuar e agir
constante.
O trabalho da professora Isabel Cristina Dias Bertevelli se destaca
pela abordagem com deficientes visuais. Verifica-se abaixo o relato
do começo do seu trabalho:
O
início do trabalho foi explorar o movimento, pois os aspectos
musicais (vocal e instrumental) já eram trabalhados
independentemente. Percebi também a importância da criação de
como podemos ultrapassar os aspectos musicais e transpor para o
coletivo, o social. A dança é coletiva; aprende-se olhando,
sentindo, ouvindo e principalmente, vendo. Essa foi minha
dificuldade: a necessidade de dizer claramente o que aconteceria, os
passos até a formação de toda coreografia. Paralelamente, como
promover uma livre expressão de movimentos sem a visão ou como
promover um significado para esse movimento experimentado...
...O
trabalho musical com cegos utilizando se o movimento pode ser um
pouco mais lento do que seria normalmente com alunos que enxergam.
Este trabalho precisa de uma série de condutas que são muito
simples, mas que contribuem na organização das aulas e em seu
efetivo desenvolvimento. Algumas estratégias básicas de
aprendizagem que são utilizadas, inclusive, em outras situações de
ensino
- aprendizagem, mas, neste caso, sua utilização é fundamental. (
Isabel Cristina D Bertevelli -
Estratégias
metodológicas utilizadas na Educação Musical de cegos a partir da
abordagem Orff – Scheulwerk).
Koellreutter
(1998) afirma que a educação musical é um meio de desenvolver
faculdades para o exercício de qualquer profissão. Realmente o
estudo musical não envolve somente habilidades fisico motoras mas
também as faculdades sensoriais e psicológicas. Isso não quer na
verdade provar que um músico seja uma pessoa melhor do que outra mas
dizer que a música oferece inúmeras ferramentas para que um
indivíduo seja ele quem for possa se desenvolver completamente.
“Hans-Joachim
Koellreutter (1998), educador musical e conceituado compositor alemão
naturalizado brasileiro, afirma que a música é um meio de
desenvolver faculdades para o exercício de qualquer atividade. De
acordo com suas palavras, a música trabalha a concentração, a
autodisciplina, a capacidade analítica, o desembaraço, a
autoconfiança, a criatividade, o senso crítico, a memória, a
sensibilidade e os valores qualitativos.”
Até
aqui é possível entender plenamente que música é acessível a
todos de uma forma ou de outra. Nem todo indivíduo nasceu para ser
músico profissional, mas toda pessoa pode ser musicalizada e para
isso basta ela ter contato com a música, mais do que ouvi-la. Se
musicalizar é sentir, experimentar e fazer música com qualidade ou
não.
De
acordo com Reimer (1970): a educação musical [...] tem lutado
com o problema
de
justificar sua existência para a sociedade, da qual ela depende.
Apesar
do esforço de inúmeros educadores o sistema pedagógico ainda é
escravodo sistema econômico. Não é nada dificil observar muitos
educadores construindo seus próprios materiais e instrumentos de
trabalho, ou arcar com outros custos referentes a seu emprego porque
assumiram o compromisso da educação de qualidade. Mas quando os
chefes de nação, de estado e secretarias de educação realmente
iram arcar com e assumir juntos com os educadores essas funções? O
investimento em educação reflete também o investimento em saúde.
Em casos mais sérios de deficiência o proessor preciso trabalhar em
conjunto com o especialista em medicina, seja um médico, enfermeiro,
psicólogo ou fisioterapeuta. Essas pontes extremamente necessárias
precisam ser construídas, mas ainda não existem. Ainda vivemos com
o errado pensamente de que cada um deve fazer sua parte quando na
plena realidade funcionamos como uma orquestra onde só tocamos
quando ouvimos o outro.
Referências:
BERTEVELLI,
Isabel Cristina D, Estratégias metodológicas utilizadas na
Educação Musical de cegos a partir da abordagem Orff – Scheulwerk
LOURO,
Viviane, Educação musical e deficiência:quebrando os
preconceitos
VASH,
Carolyn. Enfrentando a deficiência:a manifestação, a psicologia, a
reabilitação. São Paulo: Pioneira, 1998.
ATACK.
Sally M. Atividades Artísticas para Deficientes. Trad. Thaís Helena
F. Santops. Campinas: Papirus, 1995. (coleção Educação Especial).